quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Parte II



Com 9 dias de vida sais-te dos cuidados intensivos e foste transferida para a Neonatologia do Hospital em que nasceste, para os cuidados intermédios.
Uma grande alegria, pois é mais um passo em frente saber que já estavas nos cuidados intermédios.
Lá, permaneceste, mais um mês dentro da incubadora, onde todos os dias te fui visitar, sempre com aquele receio de uma má notícia.
Era sempre uma alegria saber que tinhas engordado nem que fosse 1g, e um aperto no coração quando o peso diminuía.
Neste mês, passas-te por algumas etapas menos boas, mas todas foram superadas. A pior foi saber que tinhas um sopro no coração, foste tratada com medicação que numa 1ª fase que não resultou, mas à 2ª já fez efeito e quase fechou. Tiveste uma hemorragia interventricular (penso que seja esse o nome), mas que não veio trazer qualquer efeito ao teu desenvolvimento. É comum nos prematuros. Rejeitas-te o leite, e tiveram que o retirar. Como se costuma dizer "um passo à frente e 2 atrás", disseram-me para começar a tirar do meu com uma bomba e finalmente tudo ficou resolvido, e começas-te a tolera-lo bem. Por fim já não engordavas muito e chegaram a conclusão que o meu leite era fraco e passaram para o leite em pó.
Outras vezes tinhas uma taquicardia muito elevada, parecia que sentias a minha ansiedade, e acredito que sim. Um dia quando lá cheguei estavas com uma pulsação muito elevada e eu fiquei muito nervosa, quando me dirigi a ti, tu sentis-te isso e ainda aumentou mais. Pensei para comigo "estou a passar esta ansiedade para ti, vou dar uma volta a ver se acalmo", e resultou. Quando voltei já mais calma também tu ficas-te mais calma, não há dúvida quando dizem que os bebés sentem o que as mães estam a passar.
Fui aconselhada, pelo pediatra que te seguiu , a pôr música na tua incubadora, dizia ele que acalmava os bebés prematuros.
Levei então música clássica para pôr na tua incubadora, a tua 1ª reacção foi de morrer a rir, parecia que estavas a perceber tudo. Assim que liguei o som, puseste as mãos nos ouvidos e mexeste-te muito, ri imenso foi como se dissesses : "Mãe!!!!!!!!!!!!!! que coisa é essa tão horrível que me estás a pôr aqui, desliga desliga" .
Este foi o teu 1º encontro com a música, mas a partir daí a verdade é que ficas-te muito mais calma e começas-te a gostar.



Passado um mês saíste da incubadora e passas-te para o berço, que era a etapa final antes de teres alta. Que alegria ver ali a minha filhota, sem ser dentro da sua caixinha e como os outros bebés num bercinho.
E eis que chega o grande dia, e ao fim de 45 dias de internamento estás apta para vir para casa.
Eu fiquei tão feliz que só me apetecia saltar e pular, com 2040 kg e 44,5 cm tiveste finalmente alta e vieste conhecer a tua casinha e finalmente dar alegria a este lar.

domingo, 16 de novembro de 2008

Introdução ( Parte I )




11 de Outubro de 1999, 12h05m


A princesa do meu reino nasceu de apenas 28 semanas e 5 dias, com 1.400 kg. Ouvi-te chorar, no meio de toda aquela aflição, um motivo para sorrir -
estavas viva.
Não te vi, e desapareceram contigo dali da sala de partos, onde fiquei só. Só com os meus pensamentos e aflições, de não saber o que estava a acontecer. Um bebé prematuro para mim até a data era apenas um bebé que nascia mais cedo. Nem imaginava eu, por todas as etapas de vida que ainda irias passar.
Passado uma hora levaram-me para a enfermaria, onde me deram logo uma foto tua. Eras linda, mesmo pequenina e ainda suja do sangue e já dentro da incubadora, e deu logo para ver que eras a cara do teu pai.
Foste transferida para a M.A.C. com apenas duas horas de vida, para a "famosa sala 5" - U.C.I.
Num repente lembrei-me de ligar a toda a família que já tinhas nascido, 1º o teu pai, depois o avô, depois a tia...tudo ficou baralhado eras para nascer no fim de ano.
Passado o impacto inicial veio a alegria de teres nascido e o medo do desconhecido. O teu pai foi ver-te umas horas mais tarde já na M.A.C., e trouxe mais uma foto tua, agora já toda entubada, com uma fraldinha, um gorro e umas botinhas. Acho que eras mais pequena que os teus Nenucos :)). Para mim eras sempre linda, a mais linda.
Dois dias depois de ter alta, lá fui eu com a ansiedade natural de mãe conhecer a minha princesa. Um misto de emoções. Medo, afinal eras tão pequenina, tantos tubinhos por todos os lados, tantas incertezas, tantos apitos a toda a hora (que hoje, passados 9 anos ainda me recordo deles). Alegria de ser mãe e um aperto no coração por me sentir impotente para fazer fosse o que fosse pela minha menina.
Perguntei se podia tocar-te, disseram-me que sim, que até era bom. Senti logo uma amor por ti tão grande, dei-te logo um carinho especial, muitas festinhas, muita vontade de te ter comigo. De certeza que sabias que era a tua mãe que ali estava pelo carinho especial, estive lá uma hora e vim embora. Sentindo aquele vazio que nunca tinha pensado sentir, regressar a casa sem a minha princesa.
Doeu muito e chorei, como se uma parte de mim faltasse na minha vida, mesmo sabendo que estavas ali entregue a óptimos profissionais que tudo fizeram por ti para que sobrevivesses e a quem vou ficar agradecida o resto da minha vida.